Há momentos na vida em que os recomeços não são apenas escolhas práticas ou decisões racionais. Eles se impõem como uma urgência interna, um chamado para continuar sendo de outro modo. Iniciar um novo ciclo, como fiz ao abrir este consultório, é também um modo de escutar a mim mesmo — um gesto que reverbera o que, na psicanálise, tantas vezes testemunhamos nos pacientes: o desejo de ser. Thomas Ogden nos ensina que o encontro analítico verdadeiro só acontece quando analista e paciente conseguem cocriar uma experiência viva, num espaço onde se possa sonhar juntos, mesmo (ou especialmente) diante do indizível. Este novo espaço não surgiu de um dia para o outro. Ele é o desdobramento de um percurso de escuta e cuidado que se estendeu por dez anos e quatro meses na Casa São José, em Venturosa-PE. Um tempo longo, marcado por muitas histórias, silêncios, afetos e transformações. Ali, fui sendo moldado pelo ofício, pela presença dos pacientes e pela experiênc...