Há estantes que são mapas do mundo interior. Não são apenas tábuas e lombadas: são topografias da alma. Diante de uma delas, ricamente povoada, sinto que cada livro magnetiza um pedaço do que somos — memórias, feridas, desejos, perguntas que insistem em voltar. E, quando um pequeno Freud sentado observa um divã em miniatura, a cena inteira se transforma numa metáfora: a leitura como análise, o leitor como analisando, a página como espaço clínico onde o segredo arrisca virar voz. Ler é uma forma de respirar por dentro. É abrir janelas num quarto sem ar, deixar que entre um vento que carregue para longe o pó dos dias e traga um cheiro de mundo. Quando a vida aperta, um livro pode oferecer o tempo que nos falta: um tempo de espera, de elaboração, de nomeação. A saúde mental, tantas vezes capturada por urgências e rótulos, encontra na leitura um ritmo diferente, quase artesanato. Porque ler é aprender a escut...