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Mal-estar produz agressividade e contribui com o ódio

Painel "Guernica" (1937), de Pablo Picasso.
Obra constante no Museu Reina Sofia, em Madri,
Espanha. Fotografia: Museu Reina Sofia.


 Na formação das Civilizações  sempre estará presente o mal-estar, que produz agressividade, contribuindo com  o surgimento dos fenômenos de ódio, que  por sua vez, produzem uma quebra,  com o pacto simbólico. Freud disse que   “O mal estar na civilização”, está  em sociedade abrir mão de fortes instintos, para conter a agressividade  desse efeito rebote. Todos  devem estar sujeitos à lei, havendo alguma eqüidade entre as partes.
Na massa existe o predomínio de uma ilusão, não existe lógica nos argumentos e que sempre se  repete a mesma coisa, de modo que há uma certeza indiscutível e,  o indivíduo acaba se dissolvendo na massa. Nem  mesmo,  a autopreservação,  se faz valer, desaparecendo por completo o sentimento de responsabilidade,  que guarda os indivíduos. Aqui em nossa região, que (Agreste/Sertão), infelizmente, ainda é comum vermos lugares  com aglomerações, pessoas sem máscaras que não se preocupam em fazer uso de álcool gel, daí surge a pergunta: Onde está a responsabilidade que nos guarda? O que nos preserva?
Ao ligarmos a televisão,  a história se repete diante de nós. O mundo sofre o efeito desse vírus. Os noticiários mostram gráficos e atualizam números de pessoas que perderam a vida, deixando familiares,  até mesmo,  sem o direito a um velório ou,  mesmo,  um enterro digno. Mesmo  diante de todos os fatos, prevalece um discurso de negação da pandemia, mas não adianta tentar destruir quem emite a mensagem,  porque o Real continuará lá. Lamentavelmente nessa ordem social perversa,  de modelo neoliberal fascista,  as vidas perdem seu valor,  passando a ser apenas corpos e seres descartáveis. Como dizia o cantor e compositor Cazuza: “Eu vejo o futuro repetir o passado/ eu vejo um museu de grandes novidades”. Voltamos a repetir, continuamente,  velhos erros e tropeçamos neles. Até parece que tornamos novamente, um Brasil sem passado, porque os mortos de hoje, são aqueles “desaparecidos” de ontem. Não existe paz que suporte o peso da opressão. Isso me faz lembrar um trecho da música, Minha alma, interpretada por  Marcelo Yuka, fundador do Rappa, que  diz: “A minha alma tá armada/ E apontada para a cara do sossego/ Pois paz sem voz, paz sem voz/ Não é paz é medo”.
Portanto, nos resta aguardar a nossa vez da vacinação, mas também,  deve-se manter a proibição de aglomerações,  públicas, a obrigatoriedade do acompanhamento de dispositivos sanitários, como as máscaras e o uso permanente de álcool gel,  para higienizar  as mãos, a fim de evitar o contágio. Não  é negando a pandemia e,  nem tendo medo elevado, como uma espécie de “pandemifobia” ,(medo absurdo da pandemia), nem mesmo um movimento um tanto obsessivo,  como se fosse uma “pandemimania”, (que  em tudo ver pandemia,  vivendo uma constante angústia). Mas sim, tomando consciência,  buscando equilíbrio e sempre  seguindo as orientações sanitárias.
 
Daniel Lima Gonçalves
Psicanalista, Filósofo e Teólogo.

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