O que é um reencontro senão um espelho do tempo? Quando o Instagram — esse arauto digital dos nossos laços — nos apresenta um rosto há muito guardado na memória, não é apenas um algoritmo que age, mas uma ironia do destino. A tecnologia, fria em sua lógica binária, torna-se mediadora do que há de mais humano: a nostalgia. Aquele instante de reconhecimento — "Será que é quem penso?" — revela um paradoxo fundamental: buscamos no outro a permanência, mas ele chega até nós transformado. A euforia que segue não é apenas pela redescoberta, mas pela ilusão de que podemos resgatar o que o tempo levou.
A alegria do reencontro é como um rio que retorna ao seu leito seco: traz consigo a promessa de vida, mas também a memória da ausência. Enviamos solicitações digitais como quem estende uma ponte sobre o abismo dos anos, acreditando que os afetos do passado podem ser reativados como conexões de Wi-Fi. No entanto, o que ocorre é mais complexo: a emoção, ao transbordar, muitas vezes se perde na tradução. As palavras, que deveriam ser veículos de aproximação, tornam-se barreiras. O excesso de entusiasmo é lido como invasão; a saudade, como pressa. Aqui reside um dos grandes dilemas da comunicação humana: a impossibilidade de transmitir, intacta, a paisagem interior.
O silêncio que se segue ao mal-entendido é sintomático de nossa época. Vivemos na era da hiperconexão, mas também da solidão digital. A defensiva é um reflexo natural em um mundo onde os limites entre afeto e assédio são tênues. No calor do momento, reduzimos o outro à caricatura de suas ações recentes, esquecendo que a essência das pessoas não reside em mensagens truncadas, mas na história compartilhada. A pessoa que um dia foi porto seguro torna-se, então, um estranho — não porque mudou, mas porque nossa capacidade de ver foi ofuscada pelo medo do desencontro.
E, no entanto, há uma verdade mais profunda: os laços que resistem ao tempo são aqueles que sobrevivem às enchentes dos equívocos. A amizade verdadeira não é ausência de desencontros, mas a persistência em reencontrar-se apesar deles. Se hoje as palavras falham, amanhã podem ser redescobertas — desde que haja a coragem de olhar além do ruído. Pois no fim, talvez o maior reencontro não seja com o outro, mas com a própria capacidade de confiar que alguns fios, mesmo invisíveis, nunca se rompem.
Afinal, quantas vezes precisamos perder e reencontrar alguém — ou a nós mesmos — para entender que o desencontro não é o oposto da conexão, mas parte do seu tecido?
Daniel Lima | @daniellima.pe
A alegria do reencontro é como um rio que retorna ao seu leito seco: traz consigo a promessa de vida, mas também a memória da ausência. Enviamos solicitações digitais como quem estende uma ponte sobre o abismo dos anos, acreditando que os afetos do passado podem ser reativados como conexões de Wi-Fi. No entanto, o que ocorre é mais complexo: a emoção, ao transbordar, muitas vezes se perde na tradução. As palavras, que deveriam ser veículos de aproximação, tornam-se barreiras. O excesso de entusiasmo é lido como invasão; a saudade, como pressa. Aqui reside um dos grandes dilemas da comunicação humana: a impossibilidade de transmitir, intacta, a paisagem interior.
O silêncio que se segue ao mal-entendido é sintomático de nossa época. Vivemos na era da hiperconexão, mas também da solidão digital. A defensiva é um reflexo natural em um mundo onde os limites entre afeto e assédio são tênues. No calor do momento, reduzimos o outro à caricatura de suas ações recentes, esquecendo que a essência das pessoas não reside em mensagens truncadas, mas na história compartilhada. A pessoa que um dia foi porto seguro torna-se, então, um estranho — não porque mudou, mas porque nossa capacidade de ver foi ofuscada pelo medo do desencontro.
E, no entanto, há uma verdade mais profunda: os laços que resistem ao tempo são aqueles que sobrevivem às enchentes dos equívocos. A amizade verdadeira não é ausência de desencontros, mas a persistência em reencontrar-se apesar deles. Se hoje as palavras falham, amanhã podem ser redescobertas — desde que haja a coragem de olhar além do ruído. Pois no fim, talvez o maior reencontro não seja com o outro, mas com a própria capacidade de confiar que alguns fios, mesmo invisíveis, nunca se rompem.
Afinal, quantas vezes precisamos perder e reencontrar alguém — ou a nós mesmos — para entender que o desencontro não é o oposto da conexão, mas parte do seu tecido?
Daniel Lima | @daniellima.pe
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