Eu?
Como assim eu? Se nem sei exatamente o que sou. Tornei-me isso que, dia após
dia, muda e não sei o que serei, pois, ainda estou sendo uma metamorfose
incessável. Este ser que diz, eu, é o mesmo que diz fui. Isto mesmo! Olhando
para trás vejo que fui alguém que não sou mais, mas era eu lá, e sou eu aqui,
mas o ser de hoje não esteve lá, pois, é fruto, produto de tudo que vivenciei
no decorrer dos anos. O ser de ontem também dizia: "eu sou assim". No
entanto, hoje me vejo de outro modo e percebo que não era daquele jeito, assim
como não sou hoje o que serei amanhã. Então, o que sou eu afinal? Algo que
transcorre e escorre no tempo? Sou ou que estou sendo? Eu sou o que foi
aprimorado no tempo?
Esse
ser que abre a boca e diz, eu sou, é tão relativo que uma simples relação com
pessoas diversas gera uma mudança no que se diz ser, passando a ser produto da
influência relacional. Sendo assim, o eu de hoje, mais adiante, será outro e
não mais o que se é. Se digo que sou, já estou completo, fechado, produzido, finalizado.
Mas não sou, estou sendo, pois, sou inacabado que, aqui e ali sofre mudanças ou
aprimoramento.
Hoje,
sou o resto do ontem, o que sobrou existencialmente de quem fui, logo, o resto
que sobrou de mim sofrerá influência deste que hoje diz, eu, e evoluirá para
algo que ainda nem sei que serei ou que posso ser, mas, sem nenhuma pretensão
estou indo, seguindo o fluxo da vida, sendo com minhas convicções que são
aprimoradas e outras que perceberei que não são convicções, são apenas opiniões
equivocadas do que ainda não sei. Contudo, se sou resto do que sobrou de mim,
trago algo como essência, mas, o que é essa essência subjetiva que perpassa o
tempo e chega agora podendo passar para o amanhã? Talvez essa essência seja o
ideal de mim que visualizo, independentemente de tempo como uma espécie de
alvo, algo a ser conquistado. Mas, se precisa ser conquistado, já não sou eu e
sim algo que diz: eu.
Sou
persona que se aprende e apreende com o meio; que das circunstâncias extrai uma
espécie de néctar como aquela bebida mitológica da Grécia, o néctar dos deuses
e isso não me faz eu, mas me torna eu, tal qual aquela lenda da ave fênix. Das
cinzas ela renasce, não é mais a mesma, mas traz em si mesma a essência
subjetiva que a torna fênix novamente. Para quem vê é a mesma fênix, mas, na
verdade, aquela se desfez e das cinzas, do que sobrou dela. Ela se refaz, mais
forte e pronta para superar aquele obstáculo que um dia a desfez
transformando-a em cinzas.
Esse
ser que estou sendo não está pronto dentro de uma caixa. Está aprendendo com
seus erros e aprimorando com seus acertos, de modo que, amanhã ou depois,
olhará para trás e dirá: Olha só o que me tornei. Dizer sou torna-me acabado,
por isso, prefiro:" estou sendo", pois, não estou acabado. Assim
sendo, se sou resto do que sobrou de mim, ainda estou aprendendo e apreendendo,
porque o que sobrou é consequência de tudo que vivi. Sendo eu, prossigo para,
amanhã, continuar essa longa caminhada de querer tornar-me humano.
Daniel L. Gonçalves
Teólogo, Filósofo e Psicanalista
Identidade. Até os poetas anônimos dançam no ritmo louco da sua de(cadência). Dançar: no sentido azul ou cinza da palavra.
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Descobrir um poeta novo é ter a chance de abrir os olhos e enxergar uma cor que se fazia extinta no mundo.
Parabéns (Gonçalves)!