Cada vez mais em nossos dias aumenta a paixão pelos bens
materiais. Afinal de contas, bens simbolizam status e lamentavelmente na
maioria das vezes somos definidos e valorizados pelo que temos e não pelo que
somos. Para muitos a vida ideal está no acúmulo de bens e o que predomina é
aquela frase: “quanto mais melhor”. Então, vivemos esse frenesi, um ativismo
intenso, uma verdadeira corrida de ratos para conquistarmos e acumularmos cada
vez mais. Corremos, corremos, mas não estamos satisfeitos, queremos sempre mais
e para realizarmos esse desejo vivemos uma acirrada competição fora e muitas
vezes dentro de casa também. Viver assim não é apenas angustiante como também
gera uma grande ansiedade e parece não haver fim para isto.
Penso que a solução para isto é um
retorno à simplicidade, pois ela nos liberta dessa obsessão e nos traz
equilíbrio, de modo que pacificamos e aquietamos nossa alma. Ser simples limpa
a nossa visão e assim enxergamos o devido lugar dos bens materiais que é tornar
a vida mais fácil e não um fardo pesado que tira-nos o fôlego sufocando a alma.
Em nossos dias, vida simples está na moda por seus benefícios ecológicos
também.
A simplicidade descomplica a vida e
a torna mais bonita, pois não caminhamos sobre acúmulos que nos causam perdas.
Não poucas vezes por se valorizar bens materiais tratamos pessoas como coisas e
invertemos a ordem passando a valorizar as coisas e usar pessoas. A
consequência desse caminhar é desastrosa, famílias são arruinadas e lares
desfeitos passando a ser apenas dormitórios e ainda praças de alimentação.
Muitos optam em colocar um remendo nas relações e dão presentes para substituir
presença.
O simples valoriza o essencial da vida, como disse o
escritor, ilustrador e piloto francês A. Saint-Exupéry: “O essencial é
invisível aos olhos”. Viver com simplicidade é ser um sinal de despojamento
porque se opõe ao consumismo e não aceita a prisão proposta pelo supérfluo. Se
de fato e de verdade vivemos com simplicidade aprendemos a descobrir nas
pequenas coisas a felicidade de existir, viver, desfrutar e compartilhar. O simples
também é alguém humano que reconhece sua limitação. Sabe que é um ser finito e
que está em constante aprendizado, caindo e levantando, por isso não tem
dificuldade alguma em reconhecer seu erro. Não é escravo da aprovação do outro,
pois entende que os outros projetam em nós seus desejos e suas faltas. Como
diria Mário Quintana: “Na simplicidade aprendemos que reconhecer um erro não
nos diminui, mas nos engrandece, e que as pessoas não existem para nos admirar,
mas para compartilhar conosco a beleza da existência”.
Um dos grandes mestres da
literatura russa do século XIX Leon Tolstoi certa vez disse: “Não existe
grandeza onde não há simplicidade, bondade e verdade”. A simplicidade é a
grandeza que proporciona liberdade! Não podemos nos conformar com uma sociedade
doente. Vamos influenciar as pessoas levando libertação do apego insano às
coisas materiais, pois se nos conformarmos vamos adoecer junto. Sem falar que
para alguém acumular riquezas implica dizer que existe outro alguém sendo
explorado.
Portanto, despertemos para uma
jornada mais leve e desapegada percebendo que a felicidade não está nas coisas.
Contudo, minha intensão não é fazer uma apologia a uma vida miserável, mas que
tenhamos provisão material adequada sem nos tornarmos escravos do consumo. Os
bens precisam ser desfrutados, ou seja, nós até podemos possuí-los, mas eles
não podem nos possuir, de modo que venham a destruir pessoas, lares, famílias e
a nós mesmos. Quando não somos dominados pelo acúmulo ficamos livres da
ansiedade que de fato estrangula a alma.
Daniel Lima Gonçalves
Psicanalista, Filósofo e Teólogo.
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