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Do reencontro ao desencontro: uma reflexão sobre os paradoxos da conexão.

O que é um reencontro senão um espelho do tempo? Quando o Instagram — esse arauto digital dos nossos laços — nos apresenta um rosto há muito guardado na memória, não é apenas um algoritmo que age, mas uma ironia do destino. A tecnologia, fria em sua lógica binária, torna-se mediadora do que há de mais humano: a nostalgia. Aquele instante de reconhecimento — "Será que é quem penso?" — revela um paradoxo fundamental: buscamos no outro a permanência, mas ele chega até nós transformado. A euforia que segue não é apenas pela redescoberta, mas pela ilusão de que podemos resgatar o que o tempo levou.  A alegria do reencontro é como um rio que retorna ao seu leito seco: traz consigo a promessa de vida, mas também a memória da ausência. Enviamos solicitações digitais como quem estende uma ponte sobre o abismo dos anos, acreditando que os afetos do passado podem ser reativados como conexões de Wi-Fi. No entanto, o que ocorre é mais complexo: a emoção, ao transbordar, muitas vezes se pe...
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O sentido da jornada: olhar adiante e seguir em frente

  Há momentos em que a existência se apresenta como um vasto campo de possibilidades e incertezas. Diante desse cenário, cada pessoa se vê convidada a escolher: permanecer imóvel diante do desconhecido ou ousar avançar, mesmo sem ter todas as respostas. É nesse dilema que se revela o verdadeiro sentido do olhar adiante e do seguir em frente — não como simples ações, mas como posturas essenciais na jornada humana. Olhar para o futuro exige coragem. Não se trata apenas de desejar que dias melhores venham, mas de reconhecer, em meio às adversidades, a possibilidade de novos caminhos. Nessa perspectiva, o futuro não é um território já dado, mas algo a ser construído a partir das decisões e da disposição interior de cada um. Projetar-se no horizonte é um exercício de imaginação criadora: é querer, além do presente, aquilo que ainda não existe, mas pode vir a ser. Entretanto, não basta sonhar; o movimento é o que transforma ideias em realidade. Avançar é decidir, diariamente, que vale a ...

O fascínio e o vazio: uma leitura psicanalítica do personagem Jack em “todos os tons do prazer”.

  Jack, personagem do filme  Todos os Tons do Prazer , é uma figura que nos convida a pensar sobre os limites entre o prazer, o poder e o sofrimento psíquico. Sedutor, envolvente e aparentemente seguro de si, ele organiza sua vida e seus vínculos em torno de uma busca incessante por excitação e controle. A relação que estabelece com Victoria, marcada por sedução e dominação, permite entrever não apenas um modo de se relacionar com o outro, mas também uma estrutura subjetiva que opera pela recusa da falta e pela negação do outro como sujeito de desejo. É nesse ponto que a psicanálise pode nos ajudar a escutar o que se passa por trás da superfície fascinante desse personagem. A primeira hipótese que se impõe à escuta psicanalítica é a de um funcionamento narcísico. Jack parece precisar constantemente reafirmar seu valor e seu poder, não apenas por meio de conquistas materiais, mas, sobretudo, pela maneira como exerce domínio sobre o outro. Sua relação com Victoria não se sustent...

O reflexo distorcido: "a substância" e a crueldade da beleza imposta

  "A Substância", dirigido por Coralie Fargeat, apresenta-se como uma experiência cinematográfica visceral que transcende os limites convencionais do horror para oferecer uma reflexão incisiva sobre nossa sociedade obcecada por imagens. O filme captura, com precisão implacável, as pressões esmagadoras que recaem sobre as mulheres em um mundo que as valora primordialmente por sua juventude e aparência. No centro desta narrativa perturbadora encontra-se Elisabeth Sparkle, interpretada com notável vulnerabilidade por Demi Moore. Antiga celebridade agora em declínio, Elisabeth enfrenta o fantasma que assombra inúmeras mulheres na indústria do entretenimento: a obsolescência imposta pela idade. Quando um executivo insensível a descarta friamente como "aquela velha", o filme expõe cruamente o etarismo sistêmico que permeia nossa cultura. A premissa do filme se desenvolve a partir de um conceito aterrorizante: uma substância ilegal que permite a Elisabeth criar temporariam...

O olhar da contemplação

Há momentos em que o gesto mais simples – apoiar o queixo na mão, olhar adiante em silêncio – revela mais do que mil palavras. Nesta imagem, o pensamento parece se solidificar, como se o instante fosse capturado no exato momento em que o espírito se recolhe para mergulhar em si mesmo. O ambiente repleto de livros ao fundo sugere que o pensamento não é solitário: é acompanhado pelas vozes que atravessaram séculos, pelas perguntas eternas que ainda ecoam entre as páginas. A boina, o olhar atento por trás dos óculos, a mão que sustenta o rosto, todos são sinais de um sujeito que se dá ao direito de pensar. Em uma época de pressa, onde opiniões rápidas se sobrepõem ao silêncio reflexivo, esta imagem é quase um ato de resistência. Pensar profundamente, hoje, é uma forma de cuidar da própria alma — é reivindicar a pausa necessária para que algo verdadeiro possa emergir. O rosto sério, mas tranquilo, não indica preocupação, mas abertura. Há um convite silencioso: pensar não é apenas resolver ...

Buscando Conhecimento para obter Sabedoria

  “ [...] Quase chego a desejar não ter entrado nunca na toca do coelho... e apesar disse... e apesar disso... é tão curiosa essa espécie de vida! Só queria saber o que aconteceu comigo. [...] ”. (Alice no país das maravilhas) Estamos sempre em busca de respostas. Não poucas vezes pacientes chegam querendo respostas para muitas perguntas como: “O que aconteceu comigo? ”. Ou: “ O que eu tenho?”. Ou ainda: “ O que há de errado comigo? ”. Porém, saber quem sou hoje, agora, requer coragem de olhar para minha história e saber quem fui, como fui, onde fui e até por que fui. Em outras palavras, requer coragem para uma jornada de autoconhecimento, ainda que este não seja o fim último de uma análise. Se colocar ali no espaço psicanalítico é como o movimento de Alice, seguir para a toca do Coelho sem saber o que pode acontecer. Qualquer coisa pode acontecer nesse encontro de fala e escuta e, se manter diante de tudo é um desafio. Alice não parou para pensar que em toca de coelho é fá...

Da Ficção a Realidade?

  “Entenda seus medos, mas jamais deixe que eles sufoquem os seus sonhos”. (Alice no País das Maravilhas) Sobre o autor da ficção Em 1865 foi publicada uma das obras infantis mais famosas de todos os tempos, escrita pelo inglês Charles Lutwidge Dodgson, mais conhecido pelo pseudônimo Lewis Carroll. Embora fosse um matemático, ele é mais conhecido como autor das aventuras de Alice no País das Maravilhas se popularizou pelo longa-metragem animado da Disney, lançado em 1951. Cheia de   enigmas e simbologias , a narrativa é composta por personagens emblemáticos que nos levam a várias reflexões. As aventuras de Alice que desce por um buraco para emergir no País das Maravilhas transformara Lewis Carroll, um autor reconhecido e bem-sucedido. Alice Liddell era uma das três filhas de um colega da Oxford (Christ Church), a quem o escritor costumava entreter com suas histórias sobre o inquieto coelho branco, o Gato de Cheshire ou o Chapeleiro Maluco. Durante um passeio de barco ...