É fascinante como nos prometem um mundo de infinitas conexões, não é mesmo? A palma da nossa mão pulsa com a energia de bilhões de informações, rostos e vozes. Quantas vezes, ao deslizar a tela, nos sentimos parte de algo grandioso, um fluir constante de ideias e experiências? Mas, e quando a tela se apaga? Ou quando nos vemos rodeados, em uma festa ou em um café, mas o olhar busca o brilho azul que já se tornou uma extensão de nós? Lembro-me de um entardecer, o pôr do sol pintando o céu com tons de laranja e roxo – uma cena de tirar o fôlego. Ao meu redor, celulares em riste, capturando o momento. Ninguém parecia realmente ver o sol se pôr, mas sim a versão digital dele que seria compartilhada. O que se perde nesse hiato entre a vivência e a representação? A sensação, por vezes, é de que construímos pontes virtuais tão rapidamente que esquecemos como andar sobre o solo firme de uma conversa olho no olho, onde as nuances da voz e a delicadeza de um gesto falam mais que mil emojis. A ir...
A criatura de Frankenstein não é apenas um corpo costurado em laboratório. É, sobretudo, um ser sem lugar. Não pertence ao mundo dos homens, que a rejeitam pelo rosto disforme, nem ao mundo dos monstros, onde não há ninguém que se reconheça nela. Habita um espaço vazio, um entremeio, uma espécie de não lugar. Essa condição nos provoca porque toca algo de muito humano. Quem nunca se sentiu estrangeiro, mesmo em sua própria casa, em sua própria cidade ou até em seu próprio corpo? A criatura apenas torna visível, de modo radical, a sensação de não pertencer — de estar sempre um pouco deslocado, sem morada simbólica. Do ponto de vista existencialista, ela encarna o absurdo de que falava Camus: está aí, sem origem natural, sem genealogia que lhe dê raiz, vivendo sem justificativa. E, como em Sartre, seu corpo é sempre um corpo-para-o-outro: não é vivido em liberdade, mas devolvido como objeto de repulsa. Seu destino é ser olhada, mas nunca reconhecida. No entanto, a criatura deseja. Deseja ...