Olho para trás e percebo que aqueles acontecimentos
dolorosos que eu queria apagar da memória contribuíram para o meu crescimento.
As vivências das quais me arrependi, querendo arrancar da minha memória, também
foram necessárias neste processo de maturação. Hoje, posso olhar para trás e
perceber que, apesar dos erros, acertos, tropeções, risos, choros, atitudes
impulsivas e mesmo outras bem pensadas, o que importa é que eu vivi e continuei
vivendo, procurando sempre melhorar-me enquanto humano. Por isso, hoje, entendo
que a questão não é quanto tempo você viveu, mas como você viveu no tempo que
teve. As pessoas que você marcou e aquelas que marcaram você. É importante
refletir sobre as quedas, mas o realmente importante é como nos levantamos.
Penso que se pudesse viveria tudo de novo, mas com a consciência que tenho
hoje, isto sim, iria fazer grande diferença. Melhorar aqui e ali. Evitar outras
muitas coisas e caminhar mais leve, não permitindo que as palavras mal ditas
tivessem as forças que tiveram em muitos momentos.
É... Hoje olho para trás e percebo quantas vezes
problematizei a minha existência. Mas valeu a pena, cheguei até aqui e posso
escrever isto percebendo tudo e passando um filme para mim sobre tudo que vivi
até aqui, cada emoção e sensação. De fato e de verdade, a vida é uma escola,
quando se permite ser ensinado e se está sensível para sutilezas e singelezas
presentes aqui e ali.
Se eu não tivesse passado por tudo que passei, não
seria assim hoje. Se sou assim hoje é porque o ontem me ensinou com umas experiências
fáceis, mas outras que tive que aprender a duras penas. Às vezes me sinto um
velho num corpo de um jovem. Estou sendo assim, amanhã posso estar lá, mas
mesmo sendo eu lá, não será o eu de hoje, sigo sendo, aprendendo e dizendo como
disse Gonzaguinha: “viver e não ter vergonha der ser feliz... É a vida! É
bonita e é bonita!”.
Através desse pequeno texto, penso que deixar o
tempo passar sem se preocupar com o desconhecido futuro seja caminhar com mais
leveza. Sendo assim, construir o futuro no aqui e agora é assumir uma postura
de responsabilidade e sabedoria que nos livra da acomodação, pois ver o futuro
como este desconhecido, ou mesmo inexistente e não fazer nada é como se
apertasse um botão “repete”. Então, desta maneira vivemos o tempo todo, todo
tempo existimos numa corrida de ratos, não saímos do lugar por estarmos indo de
repetição em repetição (re-petição).
Se eu pudesse voltar no tempo? Nem sei se aceitaria
mesmo voltar, sei que seria um tentação enorme ter a possibilidade de
reconstruir a história da minha existência. No entanto, viver o agora já não é
fácil, pois temos que lidar o tempo todo com acontecimentos improváveis e a tal
da relatividade que deixa tudo ainda mais solto. Sendo assim, me deixem aqui
mesmo com meus 33 anos, seguindo, prosseguindo, caminhando, avançando e fazendo
a minha jornada, escrevendo a cada dia um novo pedaço da minha história. Aqui e
ali rasuro umas coisas, arranco uma folha, reescrevo, mas se por acaso eu
pudesse viver de novo minha vida diria como Rubem Alves: "... na próxima
trataria de cometer mais erros... Correria mais riscos, viajaria mais,
contemplaria mais entardeceres..." O que não podemos é viver com uma
constante fobia do além, ou uma contagem regressiva: “meu tempo está acabando”.
Mário Quintana certa vez disse: "Morrer, que me importa? (...) O diabo é
deixar de viver". Realmente tenho que concordar com Rubem Alves: “a vida é
tão boa”.
Agora mais um novo ciclo se inicia e o que quero?
Apenas ser eu mesmo, com erros e acertos. Tendo a oportunidade de errar como
muitos e comemorar os acertos. Caminhar refletindo e valorizando cada instante,
pois não voltam mais. Parece que foi ontem que eu tinha 15 anos, passou tão
rápido que sequer percebi quando o cabelo foi caindo e a calvície acentuando.
Construir o amanhã, sabendo que ele não existe, pois o futuro é como um
tijolinho que vamos colocando paulatinamente diante de nós e vamos avançando
sobre eles, ou seja, o futuro é agora, construído aqui mesmo, quando de fato
tratamos o hoje como presente e, dentro deste presente, vemos novas
oportunidades.
Portanto, penso que o melhor caminho seja viver
apaixonadamente, desfrutando intensa e responsavelmente cada momento, sem
sufocar-se com o que ocorrerá amanhã, pois o amanhã será o bumerangue lançado
hoje voltando para nossa mão para aí lançarmos de novo. Então, avante,
continuemos vivendo, sendo nós mesmos e não uma imensa colcha de retalhos.
Teólogo, Filósofo
e Psicanalista
Feliz-Idade (Felicidade)!
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